A banalização da mensagem

A banalização da mensagem

Como a desumanização tem distorcido nossa comunicação

Tudo o que fazemos hoje em dia é nos comunicar. Como se já não bastasse crescer falando pelos cotovelos, a gente agora também passa o dia inteiro com a mão coçando para responder as mensagens que chegam em todos os aplicativos. No fundo, a euforia da criança quando começa a falar e a que vivemos atualmente com as novas tecnologias é a mesma, mas a gente nem percebe. 

Não estamos viciados só em tecnologia. Estamos viciados em comunicar. 

Ou melhor, somos.

Comunicamos para ter mais atenção, para reafirmar quem somos para o mundo, para sermos entendidos pelas pessoas com quem convivemos, para espalhar visões diferentes e até para conquistar novos clientes. 

Mas os novos formatos de comunicação que têm surgido tomaram nossas vidas por completo e mudaram a maneira como nos relacionamos. As pessoas saem do trabalho de cara fechada porque não querem falar com ninguém no vagão do metrô, enquanto estão na tela do celular se comunicando com mais de duzentos amigos no Facebook ao mesmo tempo. 

Já parou para pensar na grande ironia que é isso?

Quanto mais próximos estamos da comunicação, mais distantes nos tornamos das pessoas. 

A comunicação tem se tornado cada vez mais desumanizada. Embora pareça que somos especialistas em comunicação, não sabemos absolutamente nada sobre o que realmente significa comunicar. 

Nem os cursos de comunicação nas universidades ensinam as pessoas a se comunicarem. Não é a toa que nos sentimos inseguros sempre que somos colocados à frente de uma situação na qual precisamos nos expor através da oratória. Não sabemos mais como adequar nossa comunicação a diferentes ambientes ou públicos. Deixamos todas as nossas habilidades comunicativas na gaveta. Ou no bolso, lá dentro da tela dos nossos smartphones.

Comunicar nos deixa inseguros.

Pode admitir: mesmo em tempos de "pré-internet", a gente já gostava mais de enviar um SMS do que fazer uma ligação. É tão mais fácil escrever de trás da cortina, né? Dá tempo de trocar as palavras de lugar e elaborar uma mensagem que pareça melhor. É o truque perfeito, porque nos passa aquela sensação de que estamos nos comunicando da melhor forma possível, de que estamos seguros.


Mas, na realidade, a comunicação por texto é muito mais difícil do que falar cara a cara. É como uma peça inteira de teatro feita com as cortinas fechadas. Não dá para ver nada, muita coisa passa batido e outras acabam sendo mal interpretadas. 

Afinal, como que a plateia vai entender o que está acontecendo?

O ser humano é o rei da má interpretação. Uma resposta com um tom de voz um pouquinho mais seco já é suficiente para um casal começar a discutir a relação. Então, imagine o estrago que uma mensagem mais direta pelo celular pode fazer.

Apesar disso, o WhatsApp e tantos outros aplicativos de mensagem, conseguiram se transformar em um dos pilares da nossa comunicação cotidiana. E este cenário se reflete muito na nossa comunicação interpessoal no geral, porque muda do oito ao oitenta o nosso entendimento do que é comunicar de verdade.

Nosso próprio conceito de mensagem é uma banalização da comunicação. Pensando bem, é até complicado falar sobre mensagem nessa era, porque esquecemos o que ela realmente é.

Temos uma novidade para você: mensagem não é o texto de 150 caracteres que você manda para os seus amigos. 

Mensagem é a essência da fala, de um discurso ou de qualquer tentativa de comunicação. 

A mensagem é o que dá vida para o seu discurso. É o que está por trás do formato e da abordagem da sua comunicação. Não é o 🙂 que você manda, mas o sorriso que você abre na frente da tela antes de enviar. É a essência.

A mensagem é o tom de voz. Lembra quando você era criança e pegava alguma coisa que sua mãe não queria? Ela nem precisava gritar, porque só pelo tom que ela falava seu nome já dava para saber que a bronca seria grande. Estava passada a mensagem. Hoje em dia, é tanto "Rafael *emoji bravo*" que logo esqueceremos até como que faz para expressar a raiva sem as artimanhas visuais dos aplicativos.

A humanização da comunicação facilita a transmissão, absorção e entendimento da mensagem. É por isso que os emojis, figurinhas e gifs existem. Eles expressam uma necessidade maior de interação e conexão que ultrapassa a janela do WhatsApp. Lentamente, estamos nos transformando nas carinhas redondas amarelas que nós mesmos criamos.

Quando banalizamos a mensagem, também banalizamos a comunicação. Mas ao banalizar a comunicação, banalizamos o que é ser humano. Esquecemos que a comunicação não tem a ver com os aplicativos que inventamos, mas com pessoas.