Depois de dois anos morando no exterior, Marina estava diante de um dilema: investir mais tempo e dinheiro e estender a experiência a fim de concluir determinados objetivos profissionais e pessoais que havia traçado, ou voltar para o convívio da família e amigos e para as oportunidades de sua terra natal?
Com papel e caneta nas mãos, ela desenhou quatro quadrantes:
- O que eu ganho se eu ficar?
- O que eu perco se eu ficar?
- O que eu ganho se eu voltar?
- O que eu perco se eu voltar?
Pressionada pelo passar do tempo, já que seu visto estava em vias de expirar, começou a preencher sua lista de prós e contras ou álgebra moral, antigo método de Benjamin Franklin. Dada a sua notoriedade como matemático e físico, devia funcionar, claro!
E dá pra fazer essa conta?
Marina começou a analisar e anotar:
- A questão financeira pesava contra, mas as oportunidades de evolução pessoal e profissional poderiam surpreender positivamente. Vamos dar peso dois para esta questão, então.
- A qualidade de vida que ela ganharia ao ficar, a segurança ao andar nas ruas, os lugares que poderia desbravar tiraram seu sono algumas vezes de tanto que pesava a favor de prosseguir com a experiência no exterior.
Depois de muitas noites em claro e de torturar o pensamento com tantas reviravoltas, a lista já estava até amassada. Não adiantava mais olhar pra ela. A decisão estava tomada: Marina pegaria o avião de volta ao Brasil.
E aí? Você previa esse resultado?
Conversando com o seu pai, que em momento algum influenciou em sua tomada de decisão, Marina concluiu que sua lista de prós e contras até contribuiu para que ela pudesse visualizar as variáveis e ponderar. No entanto, sua decisão não era matemática. Nem tampouco era possível racionalizar.
A conclusão foi que Marina não era o tipo de garota que seguiria a vida desprendida, livre, e, sobretudo, longe de suas bases: família e amigos. Os fatores emocionais derrubaram a balança para o lado de cá.
O problema de fazer essas listas de prós e contras é que a gente tá tentando colocar na balança nossos valores e não coisas que são, de fato, comparáveis. Eu posso ter dez itens de um lado e dois de outro. Mas o peso desses dois é tão grande que o argumento para os demais não se sustenta. É possível comparar pesos e medidas de um livro, por exemplo, mas não quantificar uma escolha
(Aline Jaeger - professora e mestre em linguística aplicada para a TEDxUnisinos Salon)
Os gaps da tomada de decisão
No curso Tomada de Decisão, nosso professor André Tanesi, nos mostra que o aspecto emocional é apenas um dos gaps deixados pelo instrumento proposto por Benjamin Franklin para fazer escolhas:
Gap 1 - Assim como nos envolvemos pelas emoções de curto prazo, enviesamos nossas opções e julgamentos - será que estamos colocando fatos ou estamos julgando as coisas? Se julgamos, o fazemos corretamente?
Gap 2- A gente tem pouca perspectiva. Essas análises entre um e outro nos trazem uma peça do quebra-cabeças, quando, na verdade, a gente deveria analisar de modo mais macro e nos fazer perguntas como: Quais as opções disponíveis? O que está acontecendo?
Gap 3 - Caímos na armadilha de ser binário. Tomar decisões não quer dizer que precisamos optar por A ou B, mas pensar no plano C, D ou E, por exemplo.
Bem, nossa personagem, a Marina, sofreu ao ter que tomar uma decisão frente a um cenário que, aparentemente, apresentava duas opções. Agora imagine quando as possibilidades são múltiplas!
A tomada de decisão pode ser definida como o processo de decidir sobre algo importante, especialmente em um grupo de pessoas ou mesmo dentro de uma organização.
Ela envolve a seleção de um curso de ação entre duas ou mais alternativas possíveis, a fim de se chegar a uma solução para um dado problema.
O processo de tomada de decisão nas organizações é feito por um conjunto de profissionais com o objetivo de melhorar o funcionamento da empresa. Dessa forma, trata-se de uma atividade contínua e dinâmica que permeia todas as outras atividades pertencentes à organização.
Uma vez que é uma atividade contínua, o processo decisório desempenha uma importância vital no funcionamento de um negócio. Afinal, representa a combinação entre conhecimento científico, habilidades técnicas e experiência profissional de todos.
Calma, que aqui o contexto é outro.
Dependendo da sua idade, você deve ter percebido que a experiência de ir ao cinema mudou muito com o passar dos anos. Antigamente, o perfil das salas era bem semelhante: as cadeiras não reclinavam, os recursos tecnológicos de iluminação e projeção em tela eram limitados.
As opções de conveniência e bomboniere também eram restritas. Havia poucos filmes para escolher, assim como a disponibilidade de horários e localização. Os avanços tecnológicos incidiram de forma avassaladora em tudo isso. A era da experiência abriu um leque de opções infinitamente mais confortáveis, luxuosas, com recursos em 3 dimensões…
Isso sem falar no impacto que os próprios serviços de streaming trouxeram para a sétima arte. Muitos filmes vão direto para as telas de casa e podemos conferi-los do sofá da sala.
E é claro que a era da experiência é muito mais abrangente e impacta todos os campos de consumo. A variedade de produtos e serviços nos deixa confusos nas gôndolas. A alimentação também é mais diversa e atende a todos os gostos.
Outro exemplo é que, antes do advento da internet, para que pudéssemos nos comunicar, tínhamos apenas o telefone fixo. Tínhamos que esperar a pessoa chegar em casa ou no trabalho - tinha que haver um ponto fixo. Agora, pense:
Que distância nos separa hoje de quem recebe uma mensagem nossa? Um clique? Talvez. Desde que haja conexão em rede, as formas de nos comunicarmos são incontáveis e é possível estar sempre em movimento.
Em “O paradoxo da escolha”, o psicólogo e professor Barry Schwartz explica em que ponto a escolha — marca da liberdade individual e da autodeterminação que tanto prezamos — se torna prejudicial ao nosso bem-estar psicológico e emocional. Pode gerar estresse, ansiedade - nos sobrecarregar.
Schwartz mostra como a dramática explosão na nossa “liberdade de escolha” — sejam elas as mais corriqueiras até os profundos desafios de equilibrar carreira, família e necessidades individuais — se tornou, paradoxalmente, um problema em vez de uma solução.
O paradoxo da escolha é que, idealmente, quanto mais possibilidades melhor seria. Somos mais livres para escolher e, com tantas variações, temos a chance de encontrar aquilo que se encaixa perfeitamente conosco, certo? A verdade é que não! André Tanesi - Professor curso Tomada de Decisão
Na teoria é lindo, mas a prática é bastante diferente. Ter todas essas possibilidades nos gerou alguns grandes problemas. André aponta os quatro mais evidentes:
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Efeito paralisador:
É tanta coisa que a gente não consegue escolher. Você fica ali horas e horas navegando e tentando decidir. Se você tivesse uma única opção não faria isso.
O exemplo clássico é entrar no Netflix e ficar ali navegando nas diferentes sessões até achar o filme ideal para aquele momento. Quanto tempo muita gente gasta até encontrar o que quer assistir?
Compare com quando não havia opção. Você ligava a TV e assistia o filme “da TV”. Sentava na sala, com hora marcada, tinha que ver os anúncios e a programação feita por outra pessoa.
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Menor felicidade:
O segundo problema é que o fato de ter tantas opções faz com que a gente sempre se sinta menos feliz com a opção que escolhemos. É o famoso “se eu tivesse optado por fazer outra coisa talvez fosse mais legal”. A gente mal escolhe e a pressão é tão grande pra ter feito a escolha certa que não conseguimos curtir. Você vai ter que conviver com essa escolha.\ Um bom exemplo é quando você precisa escolher sua carreira, o vestibular que vai prestar ou o local onde vai trabalhar. A maioria dos jovens sofre em ter que escolher algo tão importante dentre um mundo de opções. E aí, na primeira decepção - seja na carreira ou no curso - já acham que fizeram a opção errada.
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Expectativa:
O que nos leva diretamente para o terceiro ponto, que é a expectativa. É tanta possibilidade que com certeza, entre as opções, existe aquela que é perfeita para você. Se só tivesse uma ou duas possibilidades você teria que conviver com o “bom, é isso que temos para hoje”. Agora com centenas de possibilidades, vai sempre buscar o melhor, e se não tiver o melhor, a frustração vem. “Tudo era melhor, quando tudo era pior”.
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Culpa:
Agora tem um culpado. Você. Se você tem uma única opção e ela é uma porcaria, a culpa é do mundo. Você fez o que dava, o que poderia. Agora, se você tem 100 opções e escolhe a errada, a culpa não é mais do mundo, mas sua.